Farinha do mesmo saco
Pobre Palestina!
Foi no dia sete, em Outubro,
Que o céu caiu, que tudo morreu,
Que o ódio ficou ao rubro,
Que a esperança cedeu.
Foram mais de mil, menos de dois,
Aqueles que que a vida deixaram,
Massacre nascido de cisões
Que velhos rancores cinzelaram.
Foi destruição, violações,
Incêndios, raptos e matança,
Sem fazerem distinções
Se era velho, jovem ou criança.
E quando já saciados
Com a dor que espalharam
Esconderam-se, dissimulados,
Entre crianças que não amavam,
Usando os palestinianos —
Sem lhes perguntarem se queriam —
Como um mar de escudos humanos
Que em sacrifício pereceriam.
Sem dó, pintaram nas costas
Daquela gente, seus "amigos",
Um alvo com cores bem postas
Para guiar, do outro lado, os tiros.
E o povo ferido em sua casa
Com fúria cega investiu,
Entrou na Faixa de Gaza
Onde a luz se extinguiu.
Guiando-se pelos alvos
Que lhes eram oferecidos
Não deixaram ninguém a salvo,
Multiplicaram-se os feridos,
Os mortos e os esquecidos.
Desde então nem um deixa de pintar
Os alvos em gente inocente,
Nem o outro deixa de praticar
O tiro ao alvo em torrente.
Pois ao futuro convém
Muita gente a morrer
Para na então terra de ninguém
Novos kibutzim ver nascer.
Ou para o Hamas ser o "anjo"
Que combate os grandes vilões,
E alcançar o desejo
De os eliminar entre as nações.
Sem saber o que fazer,
O mundo em choque assolado
O genocídio fica a ver,
Tendo aos dois implorado:
— Parem os canhões! — pedem a um,
Que finge que nada ouviu,
Que não lhes liga nenhum
E massacra quem não fugiu.
— Devolvam os reféns a casa!
Assim os soldados vão embora:
Salvam-se as crianças de Gaza,
Voltaremos ao que já fora!
— Mandar os reféns de volta?
Não, nunca, jamais!
Pois cada criança morta
É ouro nas redes sociais.
Estratégia com toque de Midas —
Todos caíram no engodo:
Nesta guerra há dois genocidas,
Mas só um está nas bocas do povo.
Dos direitos, rasga-se a carta,
Porque na terra agora gaiola
Um com raiva diz «mata!»,
O outro com ódio diz «esfola!».
E, sem nunca fazerem pausa,
A chacina segue, não termina,
Já que nem Israel nem o Hamas
Se preocupa com a Palestina:
— Morram para aí, mártires da causa!
— Ou para que a terra seja minha.
É difícil parar um massacre quando ele convém a todas as partes em conflito.