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Sob o Luar de Outono

O dia de amanhã pode sempre ser melhor

Sob o Luar de Outono

O dia de amanhã pode sempre ser melhor

11.06.24

A ti, uma estátua

Ana Xis

2024-06-07_Sob o Luar de Outono_Descobrimentos e j

 

«Serei uma boa pessoa?»
Perguntas tu ao espelho,
Com medo que a resposta doa,
Com medo que te deixe vermelho
De vergonha. Ai o espelho!
Pensamento que te persegue,  
Sempre à noite ao deitar,
Depois de à cama teres entregue
Crianças que perguntam a chorar:
— Pai, o mundo vai acabar?
Está nas redes sociais
Que o mar está cheio de lixo
Que era dos nossos pais.
E tu olhas para baixo  
Sem saber o que dizer —
Vergonha de tanta compra,
De tanto plástico ter
Deixado o ar suster,
Sem fazer uma conjectura
De qual seria a criatura
Que por isso iria morrer.
— Pai, o mundo vai acabar?
— Não, eu não vou deixar.

A manhã chega, inesperada,
E tu com uma promessa pendurada
Que te roubou o descanso:
«Como evitar o falhanço
De construir um futuro
Sustentável e seguro?»
Olhaste em volta
E dentro cresceu a revolta,
Sentimento de impotência
Para tamanha diligência.
Fechaste os olhos, respiraste
E de rompante atacaste:
O que era de plástico, fora!
Tudo de novo se decora
Até que na casa inteira
Só haja pedra e madeira,
Vidro, cerâmica e metal,
E até o cabedal já ser vegetal!
Sentas-te cansado,
Com a pequenada ao teu lado,
Que olha com olhos tristinhos
Para a consola dos amiguinhos,
Mas para isso já não há dinheiro:  
Foi para a madeira por inteiro.
«Serei uma boa pessoa?»
Perguntas tu ao espelho,
Com medo que a resposta doa,
Com medo que te deixe vermelho
De vergonha. Ai o espelho!


 

 

 

14.05.24

Farinha do mesmo saco

Pobre Palestina!

Ana Xis

2024-05-13_Sob o Luar de Outono_Milan Kundera-Hama

 

Foi no dia sete, em Outubro,
Que o céu caiu, que tudo morreu,
Que o ódio ficou ao rubro,
Que a esperança cedeu.
Foram mais de mil, menos de dois,
Aqueles que que a vida deixaram,
Massacre nascido de cisões
Que velhos rancores cinzelaram.
Foi destruição, violações,
Incêndios, raptos e matança,
Sem fazerem distinções
Se era velho, jovem ou criança.
E quando já saciados
Com a dor que espalharam
Esconderam-se, dissimulados,
Entre crianças que não amavam,
Usando os palestinianos —
Sem lhes perguntarem se queriam —
Como um mar de escudos humanos
Que em sacrifício pereceriam.
Sem dó, pintaram nas costas
Daquela gente, seus "amigos",
Um alvo com cores bem postas  
Para guiar, do outro lado, os tiros.
E o povo ferido em sua casa
Com fúria cega investiu,
Entrou na Faixa de Gaza
Onde a luz se extinguiu.
Guiando-se pelos alvos
Que lhes eram oferecidos
Não deixaram ninguém a salvo,
Multiplicaram-se os feridos,
Os mortos e os esquecidos.
Desde então nem um deixa de pintar
Os alvos em gente inocente,
Nem o outro deixa de praticar
O tiro ao alvo em torrente.
Pois ao futuro convém  
Muita gente a morrer
Para na então terra de ninguém  
Novos kibutzim ver nascer.
Ou para o Hamas ser o "anjo"
Que combate os grandes vilões,
E alcançar o desejo
De os eliminar entre as nações.

 

 

 

 

08.05.24

Porquê?

Ana Xis

2024-04-24_Animais são família.jpg

 

Quando me seguraste nos braços
E pela primeira vez te vi
Da solidão não ficaram traços
Tal a alegria que senti.
A felicidade transbordava,
Tão intensa que não controlei
A longa língua que saltava
Num frenesim, sem roque nem rei.
Fiz com ansiedade imensa
A viagem que me levava
Para onde, eu tinha crença,
Um novo lar me esperava
Com comida, água e cama,
Carinho e muito amor,
Abrigo da chuva e lama,
Descanso da alma sem dor.

 

 

30.04.24

A maçã envenenada

Ana Xis

2024-04-06_Imagens para o blogue_50x50_Maça doura

 

— Tenho fome, o dinheiro não chega.
No trabalho eu tive uma pega,
Mas o patrão não me aumentou
Em vez, estrangeiros contratou.
Queixou-se o trabalhador ao santo
Que de Bento não era tanto.
— São as leis da economia.
Ou se baixa ou lhe dão guia
Para novo emprego encontrar.
Do que se está a queixar?
— Empregos, não há…
— Vá emigrar.

 

 

23.04.24

Envolvam os cravos com a bandeira da nação

Ana Xis

2024-04-12_Imagens para o blogue_50x50_Bandeira Cr

 

Conheces a triste história
Da cruz chamada suástica,
Símbolo de longa memória  
Da cultura euroasiática?
Essa cruz, no mundo a ocidente,
Era um amuleto prezado:
Trazia sucesso iminente
E boa sorte ao arrojado.

 

Depois de largos milénios
Tida em grande adoração,
Em menos de vinte anos
Estragaram-lhe a reputação.
Os nazis apareceram
Numa força monumental
E dela se apoderaram
Fazendo-a espectro do mal.
Colocaram-na em bandeiras
E levaram-nas bem alto
Para serem vistas nas fronteiras
Que queriam tomar de assalto.
Usaram-nas presas ao braço
Enquanto sem dó perseguiam
Pessoas de outro regaço
Ou que deles em algo divergiam.
Foi tanto o mal que se espalhou
Sob a cruz do braço dobrado
Que este símbolo se tornou
Para sempre, amaldiçoado.

 

 

18.04.24

Racismo é crime, machismo é liberdade de expressão

Ana Xis

2024-04-16_Imagens para o blogue_Machismo é crime

 

E se eu acordasse um dia,
Num delírio abjecto,
A pensar que é agonia
Ter de estar ao pé dum preto?
A achar ofensa profunda,
A tudo o que é mais sagrado,
Ter aquela presença imunda
Ao meu lado no trabalho?
Se eu gritasse em loucura
«O teu lugar não é aqui!
É a esfregar a negrura
Que eu no meu soalho vi!
Tu não tens capacidade
Para médico ou engenheiro,
A tua única finalidade
É obedecer e ordeiro!
Sem um branco para te guiar
Perdes-te pelo caminho,
Tal é a tua falta de pensar,
Típica do rosto escurinho.»?

 

10.04.24

Aos saudosistas do antigamente

Ana Xis

2024-04-09_Imagens para o blogue_50x50_Mulher tris

 

Tive um temor sincero
Numa manhã ao acordar
Por tudo o que quero
E não consigo deixar…
E pelo que não quero
E que insiste em voltar
Pelas mãos daquele que chora
Pelo tempo da outra senhora.

 

Escondem-se atrás da frase
«As mulheres são contradição»
Tendo usado como base
«Umas vezes querem, outras não.»

— Temos que ser nós a mandar
Pois elas sem rumo seguem;
Cabeças que não sabem pensar,
Não sabem aquilo que querem.

Ao saudosista de outrora
A explicação volto a trazer
Do que a mulher a toda a hora
Diz querer ou não querer.

 

02.04.24

Protesto em cruz

Ana Xis

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Foram em grupo, foram aos montes,
Desceram ruas, subiram pontes
Com arrojo em raiva forjado,
Marcharam em passo cerrado.
Indignados pela agonia
De serem a gente esquecida
Fizeram cruzes, mais dum milhão,
Para mostrarem da cepa que são.
— Em Portugal quem manda é o povo!
Não seremos calados de novo!
Gritaram em êxtase nas ruas
Quando os seus votos, quais fortes gruas,
Colocaram de lá para fora
Os governantes de outrora,
Trazendo para a casa sagrada
O populismo em vil manada.

 

 

 

 

 

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